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Comunidade Quilombola Camburi, município de Ubatuba/SP
 
Comunidade Quilombola Camburi, município de Ubatuba/SP
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'''As raízes históricas do Quilombo de Camburi'''
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O Quilombo do Camburi abrigou, no início de sua ocupação, vários núcleos de escravos fugidos de fazendas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
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Segundo relatos dos moradores da comunidade, um grupo de negros, liderado por uma escrava chamada Josefa, que vieram fugidos de fazendas da região de Paraty, no Rio de Janeiro, teria sido um dos primeiros a ocupar a área. Muitos moradores se referem à escrava Josefa como uma “parenta” distante e o lugar onde ela teria se refugiado até hoje se mantém na comunidade como um marco histórico: a Toca da Josefa.
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O levantamento de documentos históricos realizado por pesquisadores do ITESP mostrou ter havido, também nessa área, uma fazenda denominada Cambory.
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A Fazenda Cambory não fugia ao padrão das outras fazendas do litoral norte dessa época (séculos XVIII e XIX): grandes propriedades que tiveram, num primeiro momento, engenhos de cana-de-açúcar e posteriormente produziram café para exportação com mão-de-obra escrava. E, a partir da metade do século XIX, entraram em decadência, tendo suas terras divididas e doadas, vendidas ou mesmo abandonadas.
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Ao que tudo indica, a Fazenda Cambory foi ocupada, por compra e doação, por núcleos de escravos que nela trabalhavam. Este núcleo de escravos agregava-se a outros núcleos, vindos de outras regiões.
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O quilombo permaneceu relativamente isolado até a década de 1970 quando uma série de acontecimentos ameaçou sua permanência em suas terras e trouxe mudanças para seu modo de vida.
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Por um lado, houve a construção da BR 101 que atraiu para a região grileiros, especuladores e empresas que usaram de todo tipo de violência e subterfúgios para expulsar as comunidades tradicionais da região, como as dos Quilombos do Camburi e da Caçandoca.
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A comunidade foi alvo de diversos processos de grilagem e compras ilegais de posse, derivados da especulação imobiliária. No início da década de 1970, 80% do território do Quilombo do Camburi estava sob o domínio e posse de dois grandes compradores de terra, Francisco Munhoz e José Bento de Carvalho, que expulsaram os antigos moradores. Estes se deslocaram para as áreas mais íngremes, de mais difícil acesso, ou se mudaram para outras cidades do litoral paulista, como Santos.
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Por outro lado, ocorreu a criação do Parque Nacional da Serra da Bocaina (em 1972) e do Parque Estadual da Serra do Mar/Núcleo Picinguaba (em 1977) nas terras da comunidade, que trouxeram uma série de restrições para a prática da agricultura e do extrativismo.
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    Veja mais sobre Camburi: http://estacaomemoriacamburi.wordpress.com/memoria/

Edição atual tal como às 15h24min de 20 de maio de 2014

Comunidade Quilombola Camburi, município de Ubatuba/SP

As raízes históricas do Quilombo de Camburi

O Quilombo do Camburi abrigou, no início de sua ocupação, vários núcleos de escravos fugidos de fazendas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Segundo relatos dos moradores da comunidade, um grupo de negros, liderado por uma escrava chamada Josefa, que vieram fugidos de fazendas da região de Paraty, no Rio de Janeiro, teria sido um dos primeiros a ocupar a área. Muitos moradores se referem à escrava Josefa como uma “parenta” distante e o lugar onde ela teria se refugiado até hoje se mantém na comunidade como um marco histórico: a Toca da Josefa.

O levantamento de documentos históricos realizado por pesquisadores do ITESP mostrou ter havido, também nessa área, uma fazenda denominada Cambory.

A Fazenda Cambory não fugia ao padrão das outras fazendas do litoral norte dessa época (séculos XVIII e XIX): grandes propriedades que tiveram, num primeiro momento, engenhos de cana-de-açúcar e posteriormente produziram café para exportação com mão-de-obra escrava. E, a partir da metade do século XIX, entraram em decadência, tendo suas terras divididas e doadas, vendidas ou mesmo abandonadas.

Ao que tudo indica, a Fazenda Cambory foi ocupada, por compra e doação, por núcleos de escravos que nela trabalhavam. Este núcleo de escravos agregava-se a outros núcleos, vindos de outras regiões.

O quilombo permaneceu relativamente isolado até a década de 1970 quando uma série de acontecimentos ameaçou sua permanência em suas terras e trouxe mudanças para seu modo de vida.

Por um lado, houve a construção da BR 101 que atraiu para a região grileiros, especuladores e empresas que usaram de todo tipo de violência e subterfúgios para expulsar as comunidades tradicionais da região, como as dos Quilombos do Camburi e da Caçandoca.

A comunidade foi alvo de diversos processos de grilagem e compras ilegais de posse, derivados da especulação imobiliária. No início da década de 1970, 80% do território do Quilombo do Camburi estava sob o domínio e posse de dois grandes compradores de terra, Francisco Munhoz e José Bento de Carvalho, que expulsaram os antigos moradores. Estes se deslocaram para as áreas mais íngremes, de mais difícil acesso, ou se mudaram para outras cidades do litoral paulista, como Santos.

Por outro lado, ocorreu a criação do Parque Nacional da Serra da Bocaina (em 1972) e do Parque Estadual da Serra do Mar/Núcleo Picinguaba (em 1977) nas terras da comunidade, que trouxeram uma série de restrições para a prática da agricultura e do extrativismo.

   Veja mais sobre Camburi: http://estacaomemoriacamburi.wordpress.com/memoria/
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