NFCs/Conceiçao das Crioulas
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(→A comunidade de Conceição das crioulas) |
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As crioulas, percebendo que o solo era fértil, arrendaram uma área de três léguas em quadra (324 km quadrados) e trabalharam fortemente no cultivo e fiação do algodão. Através da venda de toda a produção, na cidade de Flores, elas conseguiram pagar a renda e, no dia 01 de janeiro de 1802, receberam a escritura de posse das terras. | As crioulas, percebendo que o solo era fértil, arrendaram uma área de três léguas em quadra (324 km quadrados) e trabalharam fortemente no cultivo e fiação do algodão. Através da venda de toda a produção, na cidade de Flores, elas conseguiram pagar a renda e, no dia 01 de janeiro de 1802, receberam a escritura de posse das terras. | ||
As novas proprietárias trataram logo de pagar a promessa feita a Nossa Senhora da Conceição pela graça concedida: a compra das terras. Um pedaço da área foi doado pelas negras para a construção de uma capela, erguida especialmente para abrigar a imagem da santa trazida por Francisco José de Sá. Surge assim o nome Conceição das Crioulas. | As novas proprietárias trataram logo de pagar a promessa feita a Nossa Senhora da Conceição pela graça concedida: a compra das terras. Um pedaço da área foi doado pelas negras para a construção de uma capela, erguida especialmente para abrigar a imagem da santa trazida por Francisco José de Sá. Surge assim o nome Conceição das Crioulas. | ||
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+ | ===Os Quilombolas=== | ||
+ | A identidade de "remanescente dos quilombos" está intrinsecamente relacionada à origem das crioulas e às relações de cooperação entre os sítios que formam a comunidade. A descendência de determinadas famílias tradicionais é sempre resgatada de forma a confirmar o pertencimento e a participação na história de Conceição das Crioulas. | ||
+ | Ao contrário de outras comunidades negras que ainda lutam pelo reconhecimento como "remanescente de quilombos", em Conceição não se utiliza elementos que reportem à condição de escravos. Sempre a imagem das crioulas lembra o poder da autonomia e a articulação entre os sítios, reforçando o sentido de unidade e sua capacidade política-organizativa. | ||
+ | Tudo isso torna o povo de Conceição ciente da sua condição e do seu papel na sociedade, trazendo comprometimento com a construção de um novo futuro para a comunidade quilombola. | ||
+ | ===Economia=== | ||
+ | Em meio a uma vegetação composta por árvores de pequeno e médio porte, como juazeiro, baraúna, jurema preta, aroeira, caroá, catolé, está o povoado de Conceição das Crioulas. Até 1987 o algodão foi o sustentáculo da economia quilombola, mas com o ataque da praga do bicudo e a entrada dos fios sintéticos, a população assistiu a sua decadência. | ||
+ | Hoje, através de uma agricultura de subsistência, seus habitantes sobrevivem plantando milho, feijão, mandioca, jerimum e melancia. Há também pequenos criatórios de ovinos, caprinos, bovinos e suínos. | ||
+ | Com o sucesso da ação voltada para a valorização e desenvolvimento do artesanato, três recursos naturais ganharam destaque, como o caroá, o barro e o catolé. | ||
+ | O caroá é uma bromélia da espécie neoglaziovia variegata que fornece uma fibra para tecelagem. De caule curto, o caroá possui espinhos em sua borda, com folhas dispostas em roseta. Em meados do século XX, existiam fábricas de caroá em Conceição e imediações, mas foram desativadas com a concorrência do sisal. | ||
+ | O barro está presente até os dias atuais nos utilitários do povo de Conceição. Até a década de 50, aproximadamente, usava-se apenas louças de barro. Muitas dessas peças eram vendidas em feiras e lojas das cidades circunvizinhas como Cabrobó, Floresta e Salgueiro, em pequenos povoados e por encomenda de famílias influentes. Conhecidas como louceiras, as mulheres que trabalham com o barro pertencem todas a mesma família consangüínea e agregados através do matrimônio. | ||
+ | Palmeira silvestre da espécie rhapis pyramidata, bem comum no sertão, o catolé fornece uma amêndoa de onde se extrai óleo. A sua palha é aproveitada no artesanato, transformando-se em chapéus, cestas, bolsas, etc. Em Conceição, a palha do catolé sempre esteve presente na produção de vassouras e esteiras, sendo considerada, até o momento, uma atividade tipicamente dos mais velhos. | ||
+ | ===AQCC - Associação quilombola=== | ||
+ | Fundada em 17 de julho de 2000, a Associação Quilombola de Conceição das Crioulas é uma sociedade civil sem fins lucrativos formada por 10 associações de produtores e trabalhadores rurais provenientes dos diversos sítios que compõe o povoado. | ||
+ | Nascida da necessidade de intensificar a luta pelo bem comum de Conceição das Crioulas, a AQCC tem como objetivos o desenvolvimento da comunidade - levando em conta sua realidade e sua história, a valorização das suas potencialidades, a conscientização do povo negro da sua importância para construção de uma sociedade justa e igualitária, a quebra da barreira do preconceito e discriminação racial. | ||
+ | No momento, o maior empenho da Associação Quilombola é a batalha pela posse da terra, com área aproximada de 17.000 hectares, numa perspectiva sustentável. A estrutura de funcionamento se dá através da Coordenação Executiva e de comissões formadas pelas lideranças da comunidade e, até o momento, a ACQC vem se mantendo com o trabalho voluntário dos seus sócios, não possuindo recursos financeiros suficientes para a sua perfeita atividade. | ||
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== Fotos == | == Fotos == | ||
Artesanato,apresentação da banda de pifano com a participação das mulheres da comunidade | Artesanato,apresentação da banda de pifano com a participação das mulheres da comunidade |
Edição das 12h50min de 20 de junho de 2013
Conteúdo |
A comunidade de Conceição das crioulas
Segundo o relato dos moradores mais velhos de Conceição das Crioulas, no início do século XIX, seis negras livres, guiadas por Francisco José de Sá, escravo fugido, chegaram à localidade, fixando morada e vivendo em plena harmonia com os índios da etnia Atikum, nativos da região. As crioulas, percebendo que o solo era fértil, arrendaram uma área de três léguas em quadra (324 km quadrados) e trabalharam fortemente no cultivo e fiação do algodão. Através da venda de toda a produção, na cidade de Flores, elas conseguiram pagar a renda e, no dia 01 de janeiro de 1802, receberam a escritura de posse das terras. As novas proprietárias trataram logo de pagar a promessa feita a Nossa Senhora da Conceição pela graça concedida: a compra das terras. Um pedaço da área foi doado pelas negras para a construção de uma capela, erguida especialmente para abrigar a imagem da santa trazida por Francisco José de Sá. Surge assim o nome Conceição das Crioulas.
Os Quilombolas
A identidade de "remanescente dos quilombos" está intrinsecamente relacionada à origem das crioulas e às relações de cooperação entre os sítios que formam a comunidade. A descendência de determinadas famílias tradicionais é sempre resgatada de forma a confirmar o pertencimento e a participação na história de Conceição das Crioulas. Ao contrário de outras comunidades negras que ainda lutam pelo reconhecimento como "remanescente de quilombos", em Conceição não se utiliza elementos que reportem à condição de escravos. Sempre a imagem das crioulas lembra o poder da autonomia e a articulação entre os sítios, reforçando o sentido de unidade e sua capacidade política-organizativa. Tudo isso torna o povo de Conceição ciente da sua condição e do seu papel na sociedade, trazendo comprometimento com a construção de um novo futuro para a comunidade quilombola.
Economia
Em meio a uma vegetação composta por árvores de pequeno e médio porte, como juazeiro, baraúna, jurema preta, aroeira, caroá, catolé, está o povoado de Conceição das Crioulas. Até 1987 o algodão foi o sustentáculo da economia quilombola, mas com o ataque da praga do bicudo e a entrada dos fios sintéticos, a população assistiu a sua decadência. Hoje, através de uma agricultura de subsistência, seus habitantes sobrevivem plantando milho, feijão, mandioca, jerimum e melancia. Há também pequenos criatórios de ovinos, caprinos, bovinos e suínos. Com o sucesso da ação voltada para a valorização e desenvolvimento do artesanato, três recursos naturais ganharam destaque, como o caroá, o barro e o catolé. O caroá é uma bromélia da espécie neoglaziovia variegata que fornece uma fibra para tecelagem. De caule curto, o caroá possui espinhos em sua borda, com folhas dispostas em roseta. Em meados do século XX, existiam fábricas de caroá em Conceição e imediações, mas foram desativadas com a concorrência do sisal. O barro está presente até os dias atuais nos utilitários do povo de Conceição. Até a década de 50, aproximadamente, usava-se apenas louças de barro. Muitas dessas peças eram vendidas em feiras e lojas das cidades circunvizinhas como Cabrobó, Floresta e Salgueiro, em pequenos povoados e por encomenda de famílias influentes. Conhecidas como louceiras, as mulheres que trabalham com o barro pertencem todas a mesma família consangüínea e agregados através do matrimônio. Palmeira silvestre da espécie rhapis pyramidata, bem comum no sertão, o catolé fornece uma amêndoa de onde se extrai óleo. A sua palha é aproveitada no artesanato, transformando-se em chapéus, cestas, bolsas, etc. Em Conceição, a palha do catolé sempre esteve presente na produção de vassouras e esteiras, sendo considerada, até o momento, uma atividade tipicamente dos mais velhos.
AQCC - Associação quilombola
Fundada em 17 de julho de 2000, a Associação Quilombola de Conceição das Crioulas é uma sociedade civil sem fins lucrativos formada por 10 associações de produtores e trabalhadores rurais provenientes dos diversos sítios que compõe o povoado. Nascida da necessidade de intensificar a luta pelo bem comum de Conceição das Crioulas, a AQCC tem como objetivos o desenvolvimento da comunidade - levando em conta sua realidade e sua história, a valorização das suas potencialidades, a conscientização do povo negro da sua importância para construção de uma sociedade justa e igualitária, a quebra da barreira do preconceito e discriminação racial. No momento, o maior empenho da Associação Quilombola é a batalha pela posse da terra, com área aproximada de 17.000 hectares, numa perspectiva sustentável. A estrutura de funcionamento se dá através da Coordenação Executiva e de comissões formadas pelas lideranças da comunidade e, até o momento, a ACQC vem se mantendo com o trabalho voluntário dos seus sócios, não possuindo recursos financeiros suficientes para a sua perfeita atividade.
Fotos
Artesanato,apresentação da banda de pifano com a participação das mulheres da comunidade
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